quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O Começo aos 27.

Completei 27 primaveras, então bateu uma sensação nostálgica ao relembrar como eu achava que seria quando tivesse a idade que tenho, quando era criança. Sinto-me longe de tudo, tanto do que eu sonhava quanto da minha infância. Eu achava que aos vinte e cinco anos casaria, então lá pelos 27, certamente, já teria um filho, um carro, alguns livros publicados, muitos saltos altos e seria profissionalmente super bem sucedida. Diferente de tudo que sonhava, a realidade hoje é que me sinto mais jovem do que acharia que sentiria e não sou nada daquilo que descrevia quando ainda não sabia nadinha da vida. Aos 27 anos, depois de mais de 9.720 dias vividos (os anos bicestos não me permitem ser mais exata) me sinto COMEÇANDO, não como a adolescente que já fui, aquela que também começava, mas, de outra forma, de um jeito que começava do zero. Hoje eu venho começando dos 25, 26 e agora começo aos 27, quando já sei algo sobre a vida, já sei um pouco do amor, mas, como quem está iniciando eu busco e tenho muitas dúvidas. Não tenho mais a mesma fúria pela vida, ansiedade de adiantar, aprecio com calmaria, sinto outros sabores. Hoje reconheço com alguma maturidade que meu paladar pode provar mais, mas cada sabor no seu tempo, sem tanta pressa. Um barzinho e uma cerveja fazem minha felicidade e saltos altos para ocasiões mais formais, na maioria do tempo me atrai o conforto. Quando eu achei que teria uma vida completa é quando eu estou dando primeiros passos, começando minha carreira profissional, aprendendo a ser adulta, lidando com as novidades dos relacionamentos, eu não sei nada sobre as pessoas. Hoje escrevo de outra forma, já não é como quando era pequena e escrevia estorinhas que imediatamente ficavam coloridas em minha mente, escrevo um tanto mais enigmática: vermelho, preto e branco, mais sofisticada, talvez. Alcanço uma fase que sou mais livre de mim mesma, pois, foi quando dei um grito de coragem e quis me conhecer. Acabo me rendendo ao pensamento de que se eu teria tantas coisas aos 25 anos eu não deveria estar engatinhando, como estou, mas ao mesmo tempo interrompo essa ousada náusea e lembro que caminho na velocidade da minha idade, aos 27 km/h, que já é muito, apesar de não ser.  Cheia de sonhos para sonhar, justamente na época em que posso realizar, parece mais real do que na infância. Sei que outras pessoas com características semelhantes as minhas estão em outros pontos da vida, mas cada um com sua própria história. Para mim, há muito futuro ainda. Eu sinto que o “haverá, estará e virá” são verbos que acredito mais do que já acreditei um dia. Já descobri coisas bem legais da vida, viver é interessante, apesar de ter notado também que é bem difícil. Antigamente, nada parecia ser tão difícil, nem havia tanta responsabilidade. Em contrapartida, eu não era futuramente e, sinceramente, não era tão bom quanto é hoje. Aos trezentos e vinte e quatro meses eu estou apenas iniciando a vida, mesmo mais íntima com ela, mal sei o resultado da soma de: Infância+adolescência+juventude. Não sei mesmo contar. Ainda que reconheça que tenho quase três dezenas não sei 1/3 da metade da matemática que eu ainda vou ser. Por isso, não me entristeço por não ser nada que eu imaginei e reconheço que minha imaginação não era nada real, era, somente, imaginação por si só, como imaginamos coisas todos os dias. Não devo nada a essa imaginação vil. Prefiro me imaginar como um pássaro que voa de acordo com os obstáculos, eu já aprendi a voar, mas com um pouco mais do que metade dos anos que vivem um falcão preciso executar voos diferentes a cada necessidade e inocentemente ainda não sei o que sou capaz de fazer. Estou voando agora pela rua do meu trabalho, rua que não andava antes e isso já é algo novo, mesmo assim sou inexperiente para o voo de amanhã. Como comecei o texto: “Completei”, com ajuda dos anos, o que é preciso para começar. Começo a partir de agora.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

"Necessaire"

Tive vontade de ser necessária,
essencial na vida das pessoas.
Como se fosse um sentido para a vida.
Sem visualizar meu próprio futuro, olhei para os lados.
Quis ser como um detalhe especial.
Sonhei ser a solução.
Cuidei em não deixar faltar nada.
Para ser necessária eu precisava ser mais do que inteira.
Inteira e a metade, uma soma nem um pouco exata.
Sem perceber os outros foram se tornando necessários para mim.
Não podia me imaginar sem raízes.
Tudo se confundiu.
Sem sentir, o necessário foi ficando maior do que deveria.
Fui me afastando do equilíbrio.
Tão presa a exageros.
Falsa liberdade é o mesmo que nenhuma liberdade.
Perdeu a graça, enxerguei a dependência.
Nunca fui necessária para ninguém.
Tudo que é preciso as pessoas fazem sozinhas.
Eu fui apenas alguém que se esforçava para ser qualquer coisa sem sentido.
As pessoas são próprias.
Delas mesmos.
É uma guerra perdida,
não há nobreza em querer ser o que, na verdade, não é,
nunca haverá agradecimento suficiente à quem se joga,
Ninguém pede suicídio.
Ninguém mudará suas escolhas por quem já escolheu.
Alívio, então, eu posso ser minha.
Sustentando tudo o que realmente me faz viver.
O necessário!
Na minha própria "necessaire" carrego o que é indispensável.


(Valéria Sales)


 
 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Inconsciente


Inconstante,
Inseparável,
Incrível,
Impetuoso,
Imaturo,
Indiscreto,
Talvez  intruso.

Consciente de que pode machucar,
Ele faz o que quer.
Inclusive ficar em silêncio.
Até mesmo ficar escondido.

Meu corpo já sentia.
Meus pés coçavam.
Minha cabeça doía.
Tudo já explodia.

Mala cheia,
Nenhum espaço vazio.
Bagagem da vida que ficou calada.
A carga são os sonhos escondidos.
O peso é a parte não vivida.

Consciente dele mesmo,
Deixou-me de fora.
Simplesmente decidiu:  - “Não deixo você conhecer”!
Intruso sim!
Mandou em mim.

Ditadura particular.
Legislação da discrição.
Alguma insanidade.
Ausência de amor próprio.

Parei de obedecer.
Não quero mais ser cega.
Cegueira ruim, dor interna.
Passei a conhecer.

Um determinado dia cheguei para dizer: “ Eu posso sonhar”.
Não preciso o tempo todo calar.
É  meu direito tocar.
Tocar em quem me constrói.  

E agora é só barulho,
Aqui em casa, ninguém surdo.
Nós que mandamos!
Inconscientemente constantes.  


(Valéria Sales)

Quadro branco


domingo, 27 de julho de 2014

Do fim ao começo.

Enfim, todo final encerra.
Toda porta fechada indica que há outro lado.
Do lado de lá começa, do lado de cá termina.
Finalmente, uma questão de ponto de vista.

Comecei com um fim.
Pois, penso:  o que é o final para o poeta?
Quando seria o final da poesia?!

A história que falava de Amor contou o que queria.
Quando parou me faltou o amor.
Onde estará seu fim?
Eu que li não entendi, declamei e não estava ali.
Só o poeta deve saber!

Anda escondido o fim.
Camuflado atrás das palavras que precedem o ponto final.
Ponto final?! Aí está o segredo! É ele que indica!
Não! Não. Pois, o encontrei  andando solto em todo lugar.

Onde acaba a poesia?
Na morte da inspiração.
Quando acaba a tinta.
No espaço das teclas.
A poesia se quieta no silêncio.

O poeta morre por alguns instantes para a magia
E, assim acaba a poesia?
Os cenários deixam de ter encanto.
Sem beleza há alguma poesia?
A poesia suporta a falta de natureza?
A poesia comporta o fim.

O fim perfeito, já deve estar escrito.
Eu não consigo encontrar.
Tampouco, entendo qual a hora de acabar.

A única coisa que fez diferença nesta poesia é que acabo de começar.  

sábado, 26 de julho de 2014

Tais olhos


Você se foi, mas me deixou seus olhos.
Não acredito que olhos aqueçam, mas fiquei quente.
Os olhos que me viram no momento que podia ser invisível.
Os olhos que viram a poesia.
Você me sentiu como um repente:  palavras que ainda podiam ser ditas.
Seus olhos estão comigo, me agoniei para devolver.
Mas, logo, me senti protegida, me acalmei.
Abraçam-me aqueles olhos que me viram ao avesso.
Falam-me os olhos que percebem meus sorrisos.
Toca o meu corpo, alcança minhas sensações, tais olhos que conhecem minha essência.
Os olhos que leram o meu livro, em minhas mãos.
Somente por esses olhos eu sou imortal.
Lentes que percebem além da aparência, alcançam o inalcançável.
Olhos que cheiram, comem, dançam ...
Olhos ao pé da letra: apenas um e outro olho que juntos são dois e visualizam seus próprios cenários.
Apaixonantes!
Álbum de recordações que me emprestou sua própria vida para que eu vivesse.
Suas paisagens são minhas paisagens.
Você me emprestou sua arte.
Fiquei com seus olhos.
Enquanto você foi embora.
E o que foi com você no lugar dos seus olhos?
Se olhos não aquecem e eu continuo fervendo, qual seria a lógica?
Fui mais com você do que você pode perceber.
Somos, eu e você, as cores que somam nós dois.
Colorimos.
Foi, não foi embora.
Deixou, levou olhos.
Enxergou e conquistou o amor.
Devolvo tuas impressões,
Porque dependo das tuas interpretações para sonhar teus sonhos.
Seus olhos em minhas mãos, estou em você.
Nossos sonhos!
Você se foi, mas me deixou seus olhos.

 (Valéria Sales)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Pensamento

Aos poucos estou sentindo otimismo.
Encontrei o que mora em mim, como se eu fosse estante. Meu interior cheio de prateleiras confunde facilmente, por isso sinto o prazer de quem escolheu o livro certo, com a certeza de que a consequência disso é nunca mais ser a mesma.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Reinvenção do amor.

Rapidez, agilidade, praticidade é o que todos querem atualmente.
Celulares, smartphones, tablets, computadores, aplicativos, mensagens de texto, vídeos, gravadores de voz etc.
Portabilidade, conexão 24 horas.
Tudo, tudo, menos pele.
Muito estudo, muita evolução da ciência, toda a tecnologia que anos atrás não pudemos imaginar.
Nenhuma simplicidade.
As pequenas poesias já não fazem falta.
Os romantismos se resolvem na facilidade de não precisar mover as pernas para o envio de uma carta.
Para que cantar serenatas?
Ligações nem são mais necessárias, ouvir a voz já não é prático o suficiente.
Surpresas deixam de ser encantadoras pelos esforços por detrás delas.
Ah! O amor?  - Esse é mais um dos elementos da vida que precisam de F5 ( Dizem os cientistas).
E eu que nasci na época errada? E eu que sonhei com um sarau?
Eu que pensei que amor era o que contava Joaquim Manoel de Macêdo, José de Alencar, Carlos Drummond ...?
Quão desatualizada estou eu, que penso que esperar tem tudo haver com o amor? 
Os cenários que pintavam os poetas já não são contados nos livros.
A emoção anda sendo reinventada.
As pessoas não sentem mais o sol.
O amor foi maquinado.
Lamentável!
Eu fico muda, tal qual Charles Chaplin.
Tempos moderníssimos!

Falta-me a ausência de tudo que foi inventado para poder rever a vida que inventa o amor.    

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Pensamento

Como o tempo passa rápido... 
A gente nem se dá conta.
Os cenários não acompanham. 
Percebo pelos rostos, já não são mais os mesmos.
O meu reflete outro espelho! ...

Valéria Sales

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Voltei a sonhar

Me faltavam sonhos!
Voltei a sonhar.
Agora penso: - E as gavetas?
Tenho gavetas suficientes ?
Agora que são tantos planos...
Quem sabe improviso prateleiras? ...
E aí como organizar?
Aí, aí, aí! quanta ansiedade! Eu mal recomecei a sonhar.
Mal sei como segurar, me sinto com as mãos cheias.
Assim, não vai.
Pior do que não sonhar é derrubar.
Há vida! Eu acredito! Há vida para tantas gavetas.

Valéria Sales

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Como ser sensual ?

Quando estava na adolescência não tinha muita noção do meu corpo e tinha algumas referências na televisão e no colégio daquelas que mais chamavam atenção, em ambos os casos as belezas eram exuberantes. Fui crescendo salientando meus defeitos, sentindo que passava longe da perfeição. Eu que convivia comigo, me olhava no espelho e via vários exageros que não somavam em beleza. Essa minha imagem distorcida de mim mesma, mais do que isso, repressiva, me fez ser insegura em vários momentos da minha vida. Eu nunca me escolhi quando comparada a outras mulheres, porque eu sabia das minhas imperfeições.  
Quando deixei de me achar bonita ocupei minha mente com bons livros, com música, leitura em geral e acabei me tornando um pouco interessante, porém ainda insegura. Foi preciso crescer de verdade, para entender que minha sensualidade não estava em apenas alguns detalhes e para entender que beleza por si só nem é tão bela.
Crescendo e somando, até perceber que a sensualidade não é nada do que contam, não é nada do que vendem. Sensualidade não é barriga seca, nem pernas delineadas ou lingerie “P”. Sensualidade é ser envolvente, é ter um olhar tão misterioso que possa criar interrogações em muitas mentes, sensualidade é uma roupa bonita, mas principalmente o que veste a roupa.
Ser sensual é ser inteligente, é saber sorrir, é brincar com coisas “brincáveis”, ser sensual é deixar seu parceiro a vontade, sensualidade é cozinhar um jantar e amar depois, ser sensual é saber pedir uma pizza, sensual é amar.
Acima de qualquer coisa, ser sensual é ser criativa. É sensual quem demonstra desejo quando é inesperado, é sensual quem não tem medo de se mostrar. É sensual a boca, ou o olhar, ou a mão, ou qualquer coisa que seja sua característica, porque é SUA!  
Sem a mesma visão da adolescência, com um pouco mais de maturidade, arrisco dizer que a sensualidade é possível em todas as fases da vida. Fui sensual aos 15 (mesmo sem perceber), fui aos 20, sou aos vinte e poucos, cada uma dessas fases eu tinha um corpo que somava a um pensamento e mesmo que diferentes, de algum jeito tudo se encaixava.
Ser sensual não é ser bonita ou feia, é ser conjunto. E, ser sensual não é levar alguém para cama, é só um jeito de ser adorável, desejável, é um jeito de se gostar, o resto é consequência.
 Ser sensual é se sentir bem, é ter autoestima. E, se você tem esses atributos é possível ser sensual até os 90 anos. Para isso não precisa cirurgia plástica, renascimento ou nada do tipo (como já imaginei na adolescência), necessita apenas cuidar das coisas que você acha mais importantes em você.
Se você cuidar das coisas mais valiosas no seu “eu”, vai se sentir bem e encontrará pessoas que achem sensual o “todo” que você é.
Sem performances, sem artificialidade ou dissimulação, tão natural que não haja tanta distinção assim entre você e a sensualidade, mistura em “um só”. Assim como você tem um nariz, você pode ter sensualidade.
Os detalhes que a sensualidade pode vestir,  se descobrem com o tempo...
 Uma roupa para cada idade e fica dispensada a insegurança.  

domingo, 26 de janeiro de 2014

O que acrescenta?

O que acrescenta?

O que não diminui.
O que soma.
(Clichê!)
O que acrescenta seria o mesmo do que constrói.
Tijolos, então! Esses acrescentam, somam, não reduzem.
Tijolos são ocos, é vazio demais.
O que preenche, então?
Algodão!
Mas, é leve demais. Voa!
A Caneta, serve? A Caneta escreve e preenche a linha.
Mas, o papel! Ah! O papel, esse rasga.
A Música, ela ocupa a mente.
Mas, a Música dura pouco tempo e se permanecer por muito tempo sufoca.
O silêncio? O silêncio é cheio de ausência.
Mas, aí é deserto demais.
A Repetição, acrescenta?  
Não, não, não, não, não, não...
E a Memória?
Essa aí não dá nem para confiar, é menina travessa!
 E o Medo? Faz o que? Assusta!
E a Liberdade?
A Liberdade, nem ela mesmo é livre, quanto mais eu!
E o amor?
Ele que é oco, preenche, tem tinta, ocupa a mente e sufoca, é cheio de ausência, repete o tempo todo, faz lembrar tudo e nada, assusta, prende e liberta...

Só o Amor acrescenta.

Valéria Sales