sexta-feira, 9 de março de 2012

Artigo escrito para a revista Prazer em Cavalgar



(Disponível temporariamente no site: http://www.prazeremcavalgar.com.br/)




Tem horas que, de tanta correria na cidade, retorno à minha infância, só assim viajo nos meus pensamentos para o sítio do meu avô. Nada mais saudável do que respirar o ar puro, ter animais e plantas por perto e uma tranquilidade rara nos tempos que vivemos. Ainda que seja na imaginação, a paz do campo é contagiante e lava meu coração.
Lembro que sempre ficava surpresa enquanto caminhava pelos sítios e qualquer um que passasse (morador da região) me cumprimentava. Nessa hora eu pensava, contrariada, o porquê daquela cortesia, se nem éramos conhecidos. A teoria de que “tempo é dinheiro”, que “o dia não é longo o bastante” faz com que as pessoas fiquem cegas, ou pelo menos nunca se cumprimentem sem motivos especiais. E onde meu avô vivia não era assim, as pessoas se enxergavam e até se importavam com o próximo.
A mistura de inocência com a sabedoria do sertanejo, do agricultor, também é coisa encantadora, pois é algo dado apenas pela vida e, especialmente, pelo estilo de vida que eles levam. Difícil ver um sertanejo estressado ou que não saiba muito sobre animais e plantas, não é? São características próprias, únicas e muito verdadeiras.
E como esquecer a decoração de uma casa de “interiorzão”? Começa da visão do terreiro: sempre são muitas janelas e quando elas são abertas o dia entra na casa. Algumas têm alpendres, outras não, mas sempre tinha, ao menos, uma calçada para sentar (Ah! como eu adorava ficar sentada encostada em um alpendre quando minhas pernas não alcançavam o chão e eu me divertia ao balançá-las.); Na sala sempre tem o quadro com um desenho dos entes queridos, a espreguiçadeira, um banquinho de madeira, um rádio daqueles antigos com sua antena levantada e talvez televisão, porque novela das nove horas eram as “histórias de trancoso”, as orações em família, as conversas etc. No chão, pedras grossas de cimento. As lâmpadas penduradas. O teto sem estuque fazia com que durante o sono fosse possível saber quando os gatos passavam no telhado.
E o som da noite vinha do curral, eram chocalhos. A trilha sonora do dia começava com as garças e continuava com os bem-te-vis, lavadeiras, sanhaçus. Uma verdadeira sinfonia.
Frutas tiradas dos pés, cheiro de terra molhada, mãos e pés calejados, braços fortes pelo trabalho com a enxada, marcas na pele causadas pelo sol, chapéu de couro... Isso tudo compõe uma imagem real e perfeita do sertanejo que guardo em minha memória, que não é passado, eu sei, pois, sempre haverá quem valorize a simplicidade da vida através de grandes detalhes como esses que habitam minhas lembranças.
(Valéria Sales)

Um comentário:

  1. Não procurei saber, mas escreve com a clareza de quem vive mergulhada na natureza.
    Muito bonito!
    Vim até aqui por ter entrado no meu twitter.
    Abraço

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