Completei 27
primaveras, então bateu uma sensação nostálgica ao relembrar como eu achava que
seria quando tivesse a idade que tenho, quando era criança. Sinto-me longe de
tudo, tanto do que eu sonhava quanto da minha infância. Eu achava que aos vinte
e cinco anos casaria, então lá pelos 27, certamente, já teria um filho, um
carro, alguns livros publicados, muitos saltos altos e seria profissionalmente super
bem sucedida. Diferente de tudo que sonhava, a realidade hoje é que me sinto
mais jovem do que acharia que sentiria e não sou nada daquilo que descrevia
quando ainda não sabia nadinha da vida. Aos 27 anos, depois de mais de 9.720
dias vividos (os anos bicestos não me permitem ser mais exata) me sinto
COMEÇANDO, não como a adolescente que já fui, aquela que também começava, mas,
de outra forma, de um jeito que começava do zero. Hoje eu venho começando dos
25, 26 e agora começo aos 27, quando já sei algo sobre a vida, já sei um pouco
do amor, mas, como quem está iniciando eu busco e tenho muitas dúvidas. Não
tenho mais a mesma fúria pela vida, ansiedade de adiantar, aprecio com calmaria,
sinto outros sabores. Hoje reconheço com alguma maturidade que meu paladar pode
provar mais, mas cada sabor no seu tempo, sem tanta pressa. Um barzinho e uma
cerveja fazem minha felicidade e saltos altos para ocasiões mais formais, na
maioria do tempo me atrai o conforto. Quando eu achei que teria uma vida
completa é quando eu estou dando primeiros passos, começando minha carreira
profissional, aprendendo a ser adulta, lidando com as novidades dos
relacionamentos, eu não sei nada sobre as pessoas. Hoje escrevo de outra forma,
já não é como quando era pequena e escrevia estorinhas que imediatamente
ficavam coloridas em minha mente, escrevo um tanto mais enigmática: vermelho,
preto e branco, mais sofisticada, talvez. Alcanço uma fase que sou mais livre
de mim mesma, pois, foi quando dei um grito de coragem e quis me conhecer. Acabo
me rendendo ao pensamento de que se eu teria tantas coisas aos 25 anos eu não
deveria estar engatinhando, como estou, mas ao mesmo tempo interrompo essa
ousada náusea e lembro que caminho na velocidade da minha idade, aos 27 km/h, que
já é muito, apesar de não ser. Cheia de
sonhos para sonhar, justamente na época em que posso realizar, parece mais real
do que na infância. Sei que outras pessoas com características semelhantes as
minhas estão em outros pontos da vida, mas cada um com sua própria história. Para
mim, há muito futuro ainda. Eu sinto que o “haverá, estará e virá” são verbos que
acredito mais do que já acreditei um dia. Já descobri coisas bem legais da
vida, viver é interessante, apesar de ter notado também que é bem difícil.
Antigamente, nada parecia ser tão difícil, nem havia tanta responsabilidade. Em
contrapartida, eu não era futuramente e, sinceramente, não era tão bom quanto é
hoje. Aos trezentos
e vinte e quatro meses eu estou apenas iniciando a vida, mesmo mais íntima com
ela, mal sei o resultado da soma de: Infância+adolescência+juventude. Não sei
mesmo contar. Ainda que reconheça que tenho quase três dezenas não sei 1/3 da
metade da matemática que eu ainda vou ser. Por isso, não me entristeço por não
ser nada que eu imaginei e reconheço que minha imaginação não era nada real,
era, somente, imaginação por si só, como imaginamos coisas todos os dias. Não
devo nada a essa imaginação vil. Prefiro me imaginar como um pássaro que voa de
acordo com os obstáculos, eu já aprendi a voar, mas com um pouco mais do que metade dos anos que vivem um falcão preciso executar voos diferentes
a cada necessidade e inocentemente ainda não sei o que sou capaz de fazer.
Estou voando agora pela rua do meu trabalho, rua que não andava antes e isso já
é algo novo, mesmo assim sou inexperiente para o voo de amanhã. Como comecei o
texto: “Completei”, com ajuda dos anos, o que é preciso para começar. Começo a
partir de agora.