domingo, 13 de novembro de 2016

Estante de pertences


Há um grito inerme por dentro.
O peso de uma estante de pertences amontoados.
Nem tudo é meu, ainda assim entro.
Sou uma junção de receios colecionados.

O que calei pesa toneladas.
Sinto desejo de soltar o que sou na calçada.
Há um acumulo de questões não perguntadas.
Tudo esteve tão além da minha alçada.

O que eu não entendo cresce feito raiz.
Minha imaginação carrega como quer.
Há crime, mas não há juiz.
Os frutos caem num lugar qualquer.

O silêncio se propaga pelo tempo, não mereço.
Ah! Quantas doenças soturnas.
Há uma nuança entre medo e morte: Estremeço!
Tudo se mistura, nas mais altas horas noturnas.

O medo de morrer que estagna a vida.
As mais diversas omissões injustificadas.
Depreendo a iminência da mudez guardada.
Destilo, agora, o que foi proscrito da maneira mais açodada.

(Valéria Sales)

Um comentário:

  1. Pra mim, até agora, é o melhor texto que você já escreveu! Sua alma poeta aflora! Isso é lindo de se acompanhar. Te amo

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(Valéria Sales)